Siron Franco

Gessiron Alves Franco (Goiás Velho, Goiás, 1947). Pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte. Siron Franco tem uma produção artística de predominância pictórica, em que mescla ora num vocabulário surrealista, ora com abstrações ainda passíveis de identificação alegórica, comentários críticos sobre problemas sociais e personagens da cultura pop e do cerrado goiano.

Natural da antiga capital do estado de Goiás, em 1950 o artista muda-se com a família para Goiânia. Em 1959, aos 12 anos, passa a frequentar como ouvinte as aulas do curso livre de artes da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), onde permanece até 1964. Ali estuda pintura com os artistas D. J. Oliveira (1932-2005) e Cleber Gouvêa (1942-2000), que o influenciam em sua futura produção, e frequenta também os ateliês de estudos anatômicos. Simultaneamente aos seus estudos informais, Siron executa diversos retratos e paisagens do cerrado para a elite de Goiânia, a fim de arcar com os custos do curso e auxiliar a vida doméstica, e investe numa figuração gráfica grotesca e criticamente caricatural.

Em 1968 é contemplado com o Prêmio de Desenho da Bienal da Bahia, mudando-se no ano seguinte para São Paulo, onde reside até 1971. Nesse período de residência paulistana, entra em contato com personalidades como o artista alemão surrealista Walter Lewy (1905-1995), com quem participa da exposição coletiva Surrealismo e Arte Fantástica, na Galeria Seta, e com o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar (1930-2016), que apoia as investidas formais de Siron em direção a uma ampliação da escala em seu trabalho.

Em 1974 recebe o prêmio de melhor pintor nacional na 12ª Bienal Nacional de São Paulo, participa também da 13ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1975, com 13 telas da série Fábulas do Horror. Nessa série, Siron desenvolve um vocabulário de representação do corpo humano que remete tanto a soluções do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992), como também do pintor modernista alemão Georg Grosz (1893-1959). Os corpos são inchados, volumosos, com deformações que não perdem a dimensão anatômica, mas adquirem uma condição de paródia ácida às figuras representadas com uma paleta terrosa, escura e com uma fatura de pigmentos como manchas aquosas e sedimentações arenosas.

A série mais conhecida do artista, e que desencadeia uma mudança paradigmática em sua produção, é o conjunto de obras ligadas ao acidente radioativo do Césio 137, em Goiânia, em setembro de 1987.1 A demora no atendimento aos contaminados e na contenção dos danos causados pela radiação, além do descaso jurídico dos responsáveis pelo abandono irregular do aparelho na clínica de tratamento médico, afeta profundamente Siron, principalmente por seu vínculo afetivo com o local, onde no passado vive em situação de rua.

Como resultado de seu estado de indignação, o artista produz telas, desenhos e esculturas já não mais tão teatrais e caricatos como sua produção da década de 1970, mas então próximos a algumas estratégias compositivas do pintor espanhol Antoni Tàpies (1923-2012), em que há uma economia de elementos de fundo e um destaque às pontuais imagens que funcionam como alegorias da tragédia radioativa, como silhuetas das vítimas, menções urbanísticas e arquitetônicas ao local da tragédia, e, principalmente, o uso do amarelo fosforescente em menção à letalidade da substância e da terra retirada diretamente do entorno da cidade de Goiânia.

A produção de Siron após esse evento trágico, que já seguia por uma vertente de comentários sobre as dinâmicas de violência no cotidiano, toma então um rumo de militância política. O artista passa a elaborar monumentos e ações poético-críticas, transitando desde os tópicos das violações aos direitos civis até os problemas ecológicos e o genocídio histórico das comunidades indígenas. Desse período, uma peça significativa é o Monumento às Nações Indígenas (1992) na cidade de Aparecida de Goiânia. Inaugurado para as comemorações da Conferência Rio Eco-92, a obra é constituída por 500 placas de concreto com 2 metros de altura que, sobre um piso de concreto redondo suspenso, formam o mapa do Brasil. Nessas placas, há inscrições rupestres e máscaras humanóides de cimento, aludindo não a uma edificação austera das culturas originárias, mas sim a grandes lápides de civilizações subjugadas e eliminadas.

Ainda que com predomínio da pintura em sua obra, a produção de Siron Franco tem uma variedade técnica e material bastante rica, coerente com seus temas, que seguem das crônicas do cotidiano à crítica às fissuras sociais, com enfoque considerável na contingência do entorno de Goiás, com sua população laboral e indígena.

Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8771/siron-franco

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